NEGRO ROM

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INICIATIVA QUE RECONHECE A DIFERENÇA

sábado, 10 de julho de 2010

Racismo em Debate

(Peu)

Temo parecer repetitivo ao escrever nova crônica sobre o mesmo tema,
apenas uma semana após “Sobre como me tornei racista”. Porém, não sou eu que me repito, são os acontecimentos que se repetem, e se não pararmos um pouco para refletirmos sobre eles, parecerão mais um dos absurdos normais do dia-a-dia. Não podemos nos calar.

Sábado passado (03/07/2010), eu estava a conversar banalidades com meu cunhado, J., irmão de minha esposa, quando fomos interrompidos pelo seu filho, L., que tinha algo muito importante para nos dizer. Paramos para ouvi-lo, mas o que ouvimos não eram palavras de um
adolescente negro de 13 anos de idade. Eram palavras de outras pessoas, que por algum motivo, acabaram caindo na boca do L. O que ele nos disse era “apenas uma piada”, na sua concepção, “não precisava ser levado á sério.”

“Um garoto da escola me disse que a mãe dele tinha lhe dado á luz, mas que a mãe do fulano, um garoto lá da sala, tinha dado um curto-circuito.”

O L. não conseguia parar de rir enquanto nos contava
a ‘piada’. Pouco tempo antes, em um dos vários estágios que realizei para concluir o curso de Pedagogia, escutei um menino ‘moreninho’ contando para um grupo de amigos uma piada que dizia que um rapaz havia se machucado e foi a uma farmácia comprar um esparadrapo da cor da pele. O farmacêutico pediu-lhe desculpas, mas, por aquele estabelecimento não ser uma loja de materiais de construção, não vendia ‘fita isolante’.

A Lei 10.639/03, e mais recentemente a Lei 11.465/08, versa sobre a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura da África no currículo dos estabelecimentos de ensino públicos ou particulares. Penso que as escolas só vão se esforçar para cumprirem esta lei quando estes conteúdos forem requisito para as provas do vestibular.

Mas, voltando ao L., o que a escola está ensinando aos nossos jovens eu não sei, mas tive que dizer ao L. que esta piada era racista.

“Eu
sei!” - disse L. sem parar de rir. Neste momento o seu pai falou: “Você é preto (se referindo a mim), eu sou preto, ele é preto, vem contar uma piada dessas e quando alguém fala que é racista ele diz que sabe, mas continua rindo...” L. se afastou de nós com um sorriso um pouco forçado, provavelmente não esperava que sua piada resultasse num ‘sermão’.

O fato de que o L. deve me considerar apenas um ‘moreninho’ fez com que pensasse que eu iria gostar da sua piada. Eu pensei em não falar nada, em deixar que seu pai falasse. Mas, penso que se eu calasse, J. talvez calasse também. Mesmo que ele não desse atenção e não sorrisse, como de fato não sorriu, se ele calasse deixaria de passar uma lição para seu filho, um valor.

Questões raciais são mesmo algo espinhoso. Na verdade, tanto a escola como praticamente todas as outras instituições da sociedade, não estão ensinado nada, estão calando-se no que tange a questões raciais, de modo que quem se pronuncia fica parecendo apenas um chato, um
panfletário, um radical, um fanático. É claro que sempre há exceções. Existem muitas brechas e aberturas que possuem a possibilidade de se tornarem portas abertas para o debate, mas é necessário que não nos calemos. Toda a sociedade, brancos, ‘moreninhos’ e nós negros, devemos aproveitar para nos inserirmos neste debate, que visa a criação de uma sociedade mais igualitária. Neste ponto, aproveito para lembrar que a Lei 11.465/08 inclui, também, o estudo da história e da cultura indígena na formação do Brasil como tema obrigatório no currículo escolar.

Mais uma vez, não nos calemos!


José Carlos de Alcantara, 08 de julho de 2010, 08:30 da manhã.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nossa! Como já assisti essa cena inúmeras vezes! Hoje, acredito que esse suposto racimos (perdoe-me a expresão, mas analisando historicamente, o que há no Brasil é preconceito de classe e religioso) nada mais é que fantasia midiática.

O preconceito racial, de fato, é pouco práticado neste país, e o que é tanto divulgado como preconceito, a meu ver, é puro exagero.

Concordo com você, Peu, em gênero, número e grau, quanto a situação descrita por ti.
Embora eu seja classificada como parda, eu pertenço sim a etnia negra.

Hoje, depois do meu trabalho de monografia, acredito que preconceito é mais uma questão de ponto de vista, pois o que é uma brincadeira inofensiva pra mim, pode ser preconceito para outros. E digo mais, quando ouço que um homem é um "negão" a primeira coisa que me vem a mente é um homem "pedaço de mal caminho", logo, para mim o ternmo "negão" não é preconceito, é elogio.

Por meu ponto de vista ser contrário a 'corrente em vigor', com certeza serei bem criticada. No entanto, isso é o que eu penso, acredito e vejo.

OBS.: Peu, você esccreve muito bem! Um dia eu chego lá. Parabéns!